quarta-feira, agosto 19, 2009

Pérola no caderno de esportes!


É isso aí, shoe shoes e desvairados de plantão...


Ao ler o artigo do Xico Sá (jornalista, boêmio e escritor cearense, que adotou Sampa como a sua casa) no caderno de esportes da Folha (sexta passada, dia 14), deparei-me com uma verdadeira obra de arte literária!

Contextualizando: o artigo se refere ao fato de a Polícia de São Paulo ter proibido os torcedores de entrar nos estádios com máscaras ou pinturas no rosto, pois isso dificultaria a identificação de possíveis “marginais”. A torcida do São Paulo F.C. adotou o mascarado personagem Jason (do filme Sexta-Feira,13) como um tipo de mascote – daí o imbróglio.

O que parecia ser uma análise de um fato ludopédico isolado transformou-se num “Ensaio sobre a caretice (reinante em São Paulo)”, obrigatório e necessário a qualquer cidadão de bom senso que pára (não vou tirar o acento!) para pensar na cidade em que vive e acha tudo muito estranho: proibição de tudo quanto é lado e NADA de diversão... Gente hipócrita moralizando e pregando os bons costumes – pra ganhar voto!

Ok... Sussa. Não vou falar mais nada! Reproduzo (ele deixou!) abaixo o excelente texto de Xico Sá. N
otem que ele não poderia ser mais sampa-boêmio:




SOBROU ATÉ PARA O JASON

"Mais Javaris com humor
e menos Morumbis dominados e obedientes."



AMIGO TORCEDOR, amigo secador, na cidade proibida, agora sobrou para o Jason, personagem de "Sexta-Feira 13" reencarnado no outrora morto-vivo time do São Paulo. No futebol, quem não faz leva; na política e na segurança pública, quem não faz proíbe, fecha, prende e arrebenta. É proibido beber cerveja, levar bandeiras, batucadas... É proibido placa, luminoso, andar de fretado, fumar, é proibido morrer sem saúde na bucólica Piratininga.

Claro que, nesse embalo, sobraria para o Jason na metrópole que incorporou as proibições como obra de governo ou estratégia de polícia. Ora, deixem os são-paulinos celebrarem o retorno ao bom combate. O amigo, arquibaldo ou geraldino, tem que mostrar a cara para facilitar ser identificado como bandido. É o argumento dos homens, "teje preso", não se mexa. E se fossem policiar o carnaval de Veneza ou a folia do Recife... Melhor: se cuidassem do carnaval de Bezerros, onde 300 mil pessoas se vestem de papangus, inventivas máscaras do agreste pernambucano.
É, velho Oswald, a alegria era a prova dos noves, agora danou-se, o alcaide acaba com a festa e as demais autoridades passam o rodo. A onda é fechar, rebocar paredes de boates e botequins, expulsar as moças dos saudáveis rendez-vous, pôr a ordem que acham correta e ganhar votos e aplausos de certa fatia da classe média ou dos pobres em Cristo que já fecharam suas almas para balanço.

Os Jasons, assim como os tantos zumbis ludopédicos do Maraca, trazem a criancice aos adultos e empolgam mais as crianças. Ainda bem que estão soltos nos estádios e nas ruas os sacis do Beira-Rio, os papões da Curuzu, os galos das Gerais, os orixás da Bahia, os Hulks dos times clorofilados, as caveiras e as múmias gigantes de todas as praças etc. Como se não bastassem os desmanches e toda uma sorte de pilantragens, querem levar também o mínimo poder de fantasiar das torcidas. Se profissionalismo for isso, devolvam já a minha várzea. O que São Paulo precisa, para aguentar os proibidões em plantão permanente, é mais delírio e menos patrulha. Menos Caxias e mais personagens de "
Pornopopéia" (ed. Objetiva), livraço do Reinaldo Moraes -com acento mesmo, ao contrário do que dita a reforma ortográfica.
A cidade proibida está jogando fora a melhor das vocações boêmias, destruindo o melhor dos parques de diversões noturnas. Mais Javaris com humor e menos Morumbis dominados e obedientes. Se isso é ser moderno, ódio eterno, como diz o cartaz de "
Juventus Rumo a Tóquio", um curta de Andréa Kurachi , Helena Tahira e Rogério Zagallo. O filme conta a saga de uma derrota épica. Neste caso, o time da Mooca perdeu de 2 a 3 para a Linense, com um gol salvador ao crepúsculo, conquistando a Copa Federação Paulista em novembro de 2007. É disso que o futebol carece. Mais Jasons e tirações de onda em toda parte. Esse tipo de gozação inibe muito mais a violência do que a cara feia da polícia. O mesmo pode ser dito sobre a boemia de bares, ruas e calçadas, capaz de devolver a cidade a quem rala e se diverte. Pela desobediência civil e pelo direito sagrado de fantasiar a vida. Com ou sem máscara.



amplósculos,

Nenhum comentário: