quarta-feira, fevereiro 06, 2013

O Paulista é o árabe do Brasil

Sabe aqueles filmes (que tentam nos empurrar goela abaixo) em que os americanos são os bonzinhos e os russos (nos anos 80) e os árabes (dias atuais) são os malvados-assassinos-sanguinários?  Hehehe... Sabe siiiiiim...

"Lavagem cerebral! Eu não caio nessa!", dirão os esclarecidos...

É... Mas, tem muita gente que têm medo de se sentar ao lado de "árabe" no avião... Hahaha! 
Que acha que os russos ainda vão apertar o famigerado "botão vermelho"...
E que, sobretudo, têm certeza de que os americanos estão aí pra nos livrar de todo o Mal!

Uma ideia, se repetida muitas vezes, acaba se tornando VERDADE.
Fato o
u, no mínimo, "senso comum"... 

Já parou pra pensar que você pode ser o vilão da história??? 
Hummm...

Daí vem aquele viado do Antonio Prata - que eu simplesmente acho FODA, um dos melhores cronistas da minha geração e leitura semanal obrigatória - e lança essa crônica "Cliente Paulista, Garçom Carioca" que reforça as mesmas ideias de sempre em relação a paulistas e cariocas.

Paulista é babaca. Carioca é legal. 

Pô, Prata! Não fode, cumpadi! Hahaha...

O texto, pra variar, está muito bem escrito. Mas, esse papinho de que todo paulista é dinheirista, babaca, prepotente e que, todo carioca é descolado, gente-boa, companheiro já deu, né? 

Queima o nosso filme com a mulherada do resto do Brasil, garai!

Abaixo, o texto do paulistano Antonio Prata:

6/02/2013 - 03h00

Cliente paulista, garçom carioca



Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico "pas de deux": sentado, ao fundo do restaurante, o cliente paulista acena, assovia, agita os braços num agônico polichinelo; encostado à parede, marmóreo e impassível, o garçom carioca o ignora com redobrada atenção. O paulista estrebucha: "Amigô?!", "Chefê?!", "Parceirô?!"; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro lustre.

Eu disse "cliente paulista", percebo a redundância: o paulista é sempre cliente. Sem querer estereo-tipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta "débito ou crédito?". Um ser que tem o "direito do consumidor" em tão alta conta que quase transformou um de seus maiores prosélitos em prefeito da capital. Como pode ele entender que o fato de estar pagando não garantirá a atenção do garçom carioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e criado na crua batalha entre burgueses e proletários, compreender o discreto charme da aristocracia?

Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da carapinha entediada, do descaso e da gravata borboleta, saudades do imperador. Faz sentido. Para onde você acha que foram os condes, duques e viscondes no dia 16 de novembro de 1889 pela manhã? Voltaram a Portugal? Fugiram pros Açores? Fundaram um reino minúsculo, espécie de Liechtenstein ultramarino, lá pros lados de Nova Iguaçu? Nada disso: arrumaram emprego no Bar Lagoa e no Villarino, no Jobi e no Nova Capela, no Braseiro e no Fiorentina.

O pobre paulista, com sua ainda mais pobre visão hierárquica do mundo, imagina que os aristocratas ressentiram-se com a nova posição. De maneira nenhuma, pois se deixaram de bajular os príncipes e princesas do século 19, passaram a servir reis e rainhas do 20: levaram gim tônicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom e leites para Nelson, receberam gordas gorjetas de Orson Welles e autógrafos de Rockfeller; ainda hoje falam de futebol com Roberto Carlos e ouvem conselhos de João Gilberto. Continuam tão nobres quanto sempre foram, seu orgulho permanece intacto.
Até que chega esse paulista, esse homem bidimensional e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emblema preencherá o vazio que carregas no peito -pensa o garçom, antes de conduzi-lo à última mesa do restaurante, a caminho do banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre.

Veja, veja como ele se debate, como se debaterá amanhã, depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a desigualdade é tão mais organizada: "Amigô, o bife era mal passado!", "Chefê, a caipirinha de saquê era sem açúcar!", "Ô, companheirô, faz meia hora que eu cheguei, dava pra ver um cardápio?!". Acalme-se, conterrâneo. Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não está aí para servi-lo, você é que foi ao restaurante para homenageá-lo. E quer saber? Ele tem toda a razão.

antonioprata.folha@uol.com.br

@antonioprata







Paulista é playboy... Carioca é parceirão! 

Paulista só pensa em dinheiro... carioca curte a vida!

Paulista é triste... Carioca é alegre!

Paulista só trabalha, carioca só faz festa...

...

...


Pense nisto,"terrorista"...


amplósculos!


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