"It's all happening!"
Penny Lane, no filme Quase Famosos
É... muita coisa aconteceu em Sampa desde o meu último post.
Eu estava com outro (post) engatilhado, sobre a Virada Cultural... Sobre como a mídia manipula os fatos para fazê-la parecer perigosa...
Penny Lane, no filme Quase Famosos
É... muita coisa aconteceu em Sampa desde o meu último post.
Eu estava com outro (post) engatilhado, sobre a Virada Cultural... Sobre como a mídia manipula os fatos para fazê-la parecer perigosa...
Um evento cultural para quase 4 milhões de pessoas nas ruas, com shows de qualidade, que estimula o engaiolado paulistano a confraternizar na rua - sem distinção de classe... Tudo gratuito. E, muita gente, do baixo de seus computadores, descendo a lenha na festa.
"Acomodados em geral" adoram uma desculpinha pra não se envolverem com a cidade ou o povo. O shopping center e a TV lhes são mais do que suficientes (mesmo porque, sair pra jantar tem ficado perigoso com tantos arrastões)! Botam empecilhos a fim de broxar todo mundo: "Eu? Ir nessa Virada Cultural? Só dá roubo, arrastão e briga! Prefiro ficar em casa vendo filme do que ficar no meio daquele povinho!"
MAS, chegou JUNHO de 2013...
E outras coisas mais importantes aconteceram... Logo, o "o post da Virada" fica pra depois.
O início: Houve uma manifestação, no dia 06/06/2013, contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô: custavam R$ 3,00 e passaram a custar R$ 3,20 (anúncio conjunto da Prefeitura e Governo do Estado).
O início: Houve uma manifestação, no dia 06/06/2013, contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô: custavam R$ 3,00 e passaram a custar R$ 3,20 (anúncio conjunto da Prefeitura e Governo do Estado).
Pra variar, eu estava no centro... Vi um pessoal (mais ou menos umas 2.000 pessoas), que passava pela Rua São Bento... Te juro que nem sabia de que se tratava. Ouvi uma batucada legal, falei pra minha amiga: "Deve ser festa de faculdade, tipo a Peruada, vamos lá ver o que é?". Fomos... Tava cheio de gente jovem cantando suas palavras de ordem. Algo do tipo "vem pra rua contra o aumento!".
Dei até uma sambadinha (roqueiro sambando é deprê)! Mas, não fui "pra rua". Preferi tomar uma cerveja e esperar passar o tumulto pra ir embora. No dia seguinte, notícias de que houve vandalismo nas ruas do centro, de que os manifestantes "destruíram tudo" e "pararam" o trânsito da cidade.
E haja "discussão de facebook"!
Defendi os moleques. Disse que, o pedaço da manifestação que eu vira, estava bem sussa. Ainda reforcei: "Mas, também... todo mundo reclama que o brasileiro é acomodado... depois, quando alguns decidem ir pra rua, são crucificados, chamados de vândalos? Eles só podem se manifestar num domingo de manhã, pra não "atrapalhar" o trânsito??
Descobri, pela internet, que os manifestantes era do MPL - Movimento Passe Livre.
Contrários ao movimento, praticamente todo mundo. Gente que chegou atrasada em casa, gente indignada com os atos de "vandalismo" (no caso, barricadas de lixo nas ruas e algumas lixeiras do centro avariadas). A grande imprensa desmoralizou o ato, chamando seus integrantes de delinquentes, rebeldes sem causa: Bóris Casoy, Arnaldo Jabor, o "polêmico" editorial da Folha de São Paulo pedindo mais rigor à polícia etc.
Anyway, outro manifesto foi marcado para o dia 13 de junho.
Desta vez com adesão maior, o movimento desviou seu trajeto e resolver subir a Rua da Consolação em direção à Avenida Paulista. Foi aí que algo brutal aconteceu:
Uma repressão desproporcional da Polícia Militar! Enviaram até a Tropa de Choque, para conter os manifestantes! Resumo: muitos manifestantes presos e feridos, imprensa atacada covardemente com balas de borracha (um rapaz está com a vista comprometida pra sempre) e, abaixo, outra jornalista atingida na região do olho:
Ao lado, a jornalista Giuliana Vallone (Folha de São Paulo), atingida por tiro de bala de borracha - que pode ser LETAL, dependendo de onde atinge a pessoa e a distância a qual for disparado. Foto: Guilherme Kastner / Brazil Photo Press
Indignado, assisti a tudo pela telinha (não estava em Sampa, mas tava doido pra ter à manifestação). Um absurdo: o governador Geraldo Alckmin fora a TV defender as atitudes de seus subordinados, chamando os manifestantes de "vândalos".
Após este dia lamentável, o improvável acontece:
A PM de São Paulo uniu o país!
Manifestações em solidariedade aos MPL e aos manifestantes de Sampa surgiram em diversas capitais; a imprensa repensou suas posições (procurem pelo Jabor se desculpando... hilário e constrangedor); os "reclamões de sofá" e "acomodados em geral" (citados acima) resolveram sair às ruas!!!
E o povo brasileiro acordou, meu povo!
Foi um mix de tudo: raiva da repressão policial, apoio à redução do aumento das tarifas, raiva pelos políticos ladrões e corruptos, contra os gastos astronômicos com a Copa (isso estimulou muito o povo a ir pras ruas), por mais segurança / saúde e educação.
Foi lindo demais!
De repente, tudo o que o brasileiro aguenta, desde 1500 e nunca teve a decência de sair às ruas pra protestar contra, foi dito, no dia 17 de junho. Uma catarse que tirou até a nossa, já famosa, inerte classe média de casa.
É sempre bom ressaltar que muitos grupos sempre protestaram - desde sempre - por melhorias em diversos setores da sociedade, mas, a repercussão desta semana de 17/6 a 21/6, entrou pra História!
Era gente de todo o tipo, velhos, crianças, ricos, pobres... "Sem violência", "o Gigante acordou", "Vem pra Rua", "não é só pelos R$ 0,20" eram os gritos do pessoal. Eu estava lá: a manifestação saiu do Largo da Batata e terminou no Palácio dos Bandeirantes. Que caminhada - E pacífica!
Outra vez, manifestações em outras capitais do Brasil, com diferentes pautas... Atos de vandalismo isolados e, na maioria dos casos, manifestações pacíficas.
Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad não sinalizavam recuo na decisão do aumento das tarifas do metrô e do ônibus, respectivamente.
18 de junho
Menos subjetiva que a anterior, a manifestação do dia 18 era "apenas" pela redução do aumento de R$ 0,20 nas tarifas. Concentrada em frente à prefeitura , teve adesão enorme e, também, foi pacífica. Mas, ato vândalos foram cometidos (por uma minoria oportunista) pelas ruas do centro, onde lojas e bancos foram saqueados.
No dia seguinte, a primeira vitória: Geraldinho e Fernandinho anunciam a volta das tarifas aos preços anteriores! Muito bonitinhos os dois.
20 de junho
Em São Paulo, mais um ato do MPL convoca a população à Av. Paulista. O MPL ainda quer que as tarifas sejam reduzidas a zero, mas reconhece a "vitória" do dia anterior.
No resto do país, o côro come. "PEC-37", Copa das Confederações bombando e os problemas de sempre: transporte ruim, segurança e saúde inexistentes só estimulam mais os brasileiros às ruas. Bonito de se ver!
Mas, sempre há o outro lado: invadiram / depredaram o Palácio do Itamaraty em Brasília; uma pessoa foi atropelada em Ribeirão Preto e morreu, num protesto; no Rio, um milhão de pessoas na Presidente Vargas - alguns tentaram invadir a prefeitura...
Análise FInal:
Como dito no início do post, "Tá tudo acontecendo" NESTE exato momento... Difícil analisar os fatos assim, sem o distanciamento da sabedoria... hahaha! Bom... O tempo dirá se viajei ou não, mas achei o saldo foi positivo: Quem viveu essa semana no Brasil viu um sonho se realizar: o povo acordando, saindo às ruas unido, contra tudo e contra todos, sem bandeiras partidárias. Sem?
O Movimento Passe Livre se diz apartidário, mas sempre tendeu à esquerda... E sempre lutou pela bandeira da catraca livre pra ônibus e metrô. A sociedade NUNCA iria abraçar essa ideia assim, do nada.
O resto do povo entrou na piração toda GRAÇAS à desproporcional reação da PM. Subordinados de Geraldo Alckmin que desceram o cacete na moçada, prenderam e agrediram jornalistas etc.
As redes sociais, mais uma vez, tiveram papel essencial: importantíssimas para estimular, motivar e reunir pessoas com objetivos em comum. Mas, sobretudo, pra desmentir o que a "grande mídia" tradicional nos quer enfiar goela abaixo. Se só acreditássemos nas emissoras de TV e jornalões, todos os movimentos estariam na cadeia.
Agora... a catarse geral que foi desencadeada no Brasil é mais do que válida!
A Copa das Confederações jogou ainda mais na nossa cara o quanto de dinheiro está sendo gasto para a construção de estádios... que poderiam estar ajudando um povo faminto, sem educação e sem escola...
Poréns...
Precisamos ficar atentos aos próximos passos dos levantes. Há muito a ser feito, mas, com foco! Tem muita gente entrando de gaiato nas manifestações, compromentendo pautas sérias. Os"reclamões de sofá" foram às passeatas, pois sabiam que lá haveria uma base sólida de pessoas onde poderiam se esconder e inserir, sorrateiramente, suas pautas bizarras. Tem gente pedindo o impeachment da presidente Dilma sem nem saber o porquê. O mesmo acontece para os que atacam a PEC-37. Tem até gente pedindo a redução da maioridade penal!
Ou seja, pessoas que querem entrar num ônibus (lotado) em movimento, sentar na janelinha e, ainda, expulsar o resto da galera de dentro.
O MPL, por exemplo, anunciou hoje (21/6) que saiu das manifestações devido aos acontecimentos de ontem (20/6), na manifestação em comemoração à redução das tarifas: "O MPL não vai convocar novas manifestações. Houve uma hostilidade com relação a outros partidos por parte de manifestantes, e esses outros partidos estavam desde o início compondo a luta contra o aumento e pela revogação", afirmou Douglas Beloni, do MPL.
Finalizando:
Estou muito orgulhoso desse "despertar do gigante" ter se iniciado em Sampa. Já havia muita gente acordada e lutando. Mas, agora, parece que o resto do país "se mancou". E a repercussão está maior.
De qualquer forma, o recado está dado. O país mais passivo do mundo acordou depois de um sono de 500 anos. "Já deu de putaria." Estamos de olho nos políticos e em quem quiser subtrair, mais uma vez, os nossos direitos, nossa pátria mãe tão distraída. Exigimos respeito e não pensaremos duas vezes para sairmos, novamente, às ruas pelo que queremos.
É tudo muito novo pra nós. Daremos cabeçadas. Mas, espero que tenhamos maturidade para escolhermos nossos próximos objetivos. Estou confiante.